Capitães da Areia

Definitivamente Jorge Amado me surpreende a cada livro que leio. Juro que quando comecei a me aventurar nas obras do escritor baiano achava que seu enredo se resumia a sexo, prostíbulos, violência e a exposição da mulher (especialmente o corpo). Aí, me apresentaram as obras infantis e eu fiquei de queixo caído, depois veio Dona Flor que me fez rir muito! Agora chegou Capitães da Areia (Companhia da Letras).



O primeiro contato que tive com a obra foi quando alguém bem próximo o leu e me contava maravilhas dele. Não necessariamente a história, mas os sentimentos que tinha com relação ao livro. Hoje, depois de terminar Capitães da Areia posso dizer que tudo que esta pessoa me contou não descreve o que senti.


Chorei muito (e ri também) com as aventuras de Pedro Bala e seus amigos. Senti a dor de cada um deles. Tentava dar ideias para o padre José Pedro e a mãe de santo Don’Aninha tirarem aqueles meninos daquela vida. Vibrava quando uma ação dava certo.


Para os que não sabem o livro em questão trata de um grupo de crianças e jovens abandonados. Eles de fato eram chamados (e se auto denominavam) Capitães da Areia e viviam em um trapiche abandonado de Salvador. Obviamente para viver roubavam. Pedro Bala era o líder do bando. Para escrever a obra, segundo Zélia Gattai, Jorge Amado foi viver com os meninos por um tempo.


Impressionante como as obras de Jorge Amado não me deixam em paz mesmo depois que as leio. Especialmente nesta não paro de pensar em questões como lealdade (os meninos podiam apanhar de quem fosse, morrer até, mas não revelavam nada do grupo). Penso também na crueldade humana porque na maior parte da leitura eu esqueci que estava lendo sobre crianças entre oito e dezesseis anos. Eles pareciam homens pelo que tinham que fazer e pelo que sofriam nas mãos da gente rica.


A falta de tudo também é impressionante assim como o trabalho em equipe e o respeito as características de cada um (porque como todo mundo eles são pessoas diferentes umas das outras). Também, não posso deixar de falar, que pensei muito sobre os regimes políticos e econômicos vigentes em nosso mundo e do papel da Igreja diante de tudo isso que acontece com os marginalizados (pensei, penso e questiono muito toda a história da instituição).


Para terminar não posso deixar de dizer que a descrição de um dos personagens me lembrou o próprio autor. O Professor, que depois ficará conhecido como o artista João José, me pareceu de início Jorge Amado: “desde o dia em que furtara um livro de histórias numa estante de uma casa da Barra, se tornara perito nestes furtos. (...) João José era o único que lia corretamente entre eles e, no entanto, só estivera na escola ano e meio. Mas o treino diário da leitura despertara completamente sua imaginação e talvez fosse ele o único que tivesse uma certa consciência do heróico de suas vidas. Aquele saber, aquela vocação para contar histórias, fizera-o respeitado entre os Capitães da Areia, se bem fosse franzino, magro e triste, o cabelo moreno caindo sobre os olhos (...). A pergunta que me ficou foi: Será que eles ainda existem? Quase que imediatamente acho que posso responder: Sim, com outros nomes, sem o romantismo da obra e da época em que foi escrita (1937).


Não tenho dúvidas, é um livro que vale a pena, vale cada segundo, cada página de leitura.


Li algumas coisas que comparam Capitães da Areia a Jubiabá (dois anos mais velho) talvez seja meu próximo livro de Jorge Amado.


Também fiquei sabendo que o livro está sendo adaptado para o cinema. A diretora é Cecília Amado. Aguardo ansiosa pela estréia.

O trailer está disponível no YouTube. Confira o link

http://www.brothersoft.com/download-vdownloader-62293.html

Comentários

  1. Amiga, tô curiosa!!
    Me empresta o livro nas férias?
    Amei teu comentário e acompanhei de perto tua emoção ao ler Capitães de areia. Eu ainda estou às voltas com as trapalhadas "do além" de Vadinho, infernizando a vida de Dona Flor mesmo depois de ir para outras moradas.
    Capitães então, será o meu próximo.
    Obrigada e parabéns pelo maravilhoso post.
    Beijocas,
    Ma.

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  2. A sua propaganda foi perfeita! Estou louca de vontade de ler, tanto este, como as obras infantis... mais um pra minha lista de livros que preciso ler... e acho que é uma ótima dica de presente, né? Eu sempre qdo não sei o que dar para uma pessoa, penso em dar um livro! Mas me conta uma coisa: Qto tempo do dia vc dedica à leitura? Sei que vc trabalha, é mãe, mulher, tem uma casa ... assim como eu... que não encontro tempo pra dar uma atenção pro meu blog... e to aqui pensando como faz pra arruamar tempo pra ler???

    Beijos

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  3. Marília, obrigada e é claro que eu te empresto. É de fato uma das obras mais emocionantes que eu já li.

    Juliana, de fato este livro é uma excelente dica de presente. Sabe que muitas vezes eu faço isso também: não sei o que dar então indico um livro. Pode ler tranquilamente: é certeza de emoção. Quanto a sua pergunta lá vai a resposta: leio sempre antes de dormir, leio no ônibus, esperando o horário do médico, quando vou ao banheiro... ou seja em quanquer folguinha (desde que o pequeno esteja dormindo, claro).

    Bjos para as duas e voltem sempre.

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  4. salve, Leio Enleio,
    obrigado pela lembrança!
    recebi a notícia de seu post semana passada, mas estive viajando.
    abração e parabéns pelo blog
    (Garfield é outro clássico!)
    spacca

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  5. Estou lendo "Capitães da Areia"... é maravilhoso.

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  6. Esse eu já li.
    Quem será que me emprestou?
    Tbm li Jubiabá.
    Mas faz muito tempo.
    Não lembro direito da história. Só lembro que na época gostei muito.
    Não consegui ler 1808 na viagem.
    Um dia vai.
    Agora to lendo Caim, do Saramago.
    Divertidíssimo.
    Ótimo.
    Dou muitas risadas.
    Depois te conto direitinho.

    bjnho

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  7. Oi Maite, que bom te ver por aqui novamente. Caim acho que está em algum lugar da minha estante, só não sei exatamente onde (ou será que estou me confundindo). Estou tentando fazer um levantamento dos livros por autor, mas só o do Jorge Amado está em dia. Mesmo assim boa dica! Livro é assim mesmo as vezes é bom que ele fique olhando para gente um tempo.
    Bjnho e volte sempre

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  8. Spacca, mundo internautico é assim acha-se várias informações e abrem-se vários caminhos para eles. Seu blog é bem legal. Parabéns também! Um abraço e venha sempre

    Marília, quando terminar venha e diga o que achou. Um abraço

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  9. Adorei... chorei muito, me diverti com a singeleza de certas passagens, me sensibilizei ainda mais fortemente com a dor humana... Maravilhoso!

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  10. Que bom Marília... Senti tudo isso também! Bjos

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